terça-feira, 20 de setembro de 2016
O fiapo
Ventou forte hoje aqui
Da janela vi o vento
Sacudir com força o pé de algodão
Fez uma manhã linda
Esperamos meses pela chuva
E ela veio majestosa
Limpando a seca
Deixando leve o ar
Eu respirei fundo e senti o tempo
Sabe, eu queria poder entender melhor
São segredos que me escapam entre os dedos
Talvez se eu soubesse eu pudesse controlar
Com o vento o fiapo do algodão voou longe
Em uma dança descontrolada rumo ao desconhecido
Foram anos lutando contra a fúria do incompreensível
Foram páginas e mais páginas
Medo, desânimo, desespero
E a sensação temporária de que tudo tinha passado
Mas sempre que o vento batia eu me balançava
E tudo que queria...era que aquilo tudo parasse e então...
Me repousasse no nada absoluto
Seguro, tranquilo, sem som, sem fúria!
Mas, meu Deus!! Eu som, sou fúria!
E agora a tempestade volta..
Impiedosa!
A chuva acalenta minhas entranhas ressecadas
A memória me transporta para um dia assim
Anos atrás
Eu confesso! Tenho medo!
Mas será ainda possível
O fiapo de algodão não ser carregado pela tempestade?
quarta-feira, 14 de setembro de 2016
Novos beduínos
Escute-me respirar e me diga se ainda vivo
Não posso mudar o que fiz na vida
O tempo que tanto me escorria agora aprisiona
Em algum ponto perdi o fio que me ligava ao mundo
Corre o fogo em meus olhos num replay
Nada de novo nas ultimas fronteiras
Vim rápido nessa estrada
Alcancei um deserto que parece não ter fim
Temo já não saber o quanto é areia o quanto sou eu
Temo já não saber se perdi as direções
Se sou o próprio tempo
O próprio deserto
O mormaço me tira as forças
Ando pra frente tentando recompor o passado
Uma nova caravana
Novos beduínos
Até que a areia tome novamente minhas entranhas
Eu me canse
E diga adeus
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