sábado, 31 de março de 2018

Areia


O cheiro de putrefação passeia pelos cômodos
Vai entranhando todas as coisas
Tomando conta da alma
Tornando se comum

O lixo cai pelos cantos
Em sacolas mal fechadas de supermercados daqui
No final de semana um churrasco
Um peixe na páscoa

No corredor que liga nossas casas
Nossas vidas
Nossa humanidade
E nossas diferenças...
Mereja o esgoto da caixa de gordura

É, eles podiam fazer alguma coisa...
É, alguém poderia fazer alguma coisa...
Talvez em um final de semana eu chamasse um deles
E ajudasse a limpar sua caixa de gordura
Mas já não importa
Eles sabem disso muito antes de mim

Não importa também o cachorro
Acorrentado o dia inteiro
E seu latido triste
Não importa a ignorância
A grosseria
A falta de perspectiva
Os brados com o acorrentado

Talvez o melhor seja saber o que ainda resta
Nos escombros dessas vidas
Na dilaceração dessas existências 

Em comum carregam a saudade de um lugar
Para onde pretendem voltar
Um certo orgulho arrogante
E o medo de enxergar...
De que alguém lhes diga
Arrancando o véu que esconde as portas dessa caverna
Que algo se perdeu
Que de vida existe muito pouco nisso tudo

E assim se morre antes de nascer
No coração do Brasil
Imensa grandeza geográfica desértica
Em que almas sedentas mastigam arreia





Nenhum comentário:

Postar um comentário