domingo, 29 de outubro de 2017

Águias

Ei meu bem
Faz tanto tempo
Que eu já não crio algo assim
Tão meu
Tão parte de mim

Escrever é um pouco como sonhar
Tirar os pés do chão
E deixar a alma falar

Não é métrica
Não é rima
Um desconcerto concertado
Emaranhado
Simetricamente amarrado

No ápice do ser, uma partitura
Palavras desenhadas
Encouraçadas
Macias
Aveludadas

Uma chave de sentidos
O mais particular de mim
Tão egoísta
Tão meu
Destrinchado em mim

Tive medo
Racionalizei
Repeti em um encadeamento argumentativo
Reto
Início meio e fim
O que você é pra mim
Mas a lógica é um projétil com curso calculado
Não flutua
Não se deixa levar

Fui além
Soprei macio um eu te amo
Essa ave em forma de frase
Que tão violentamente gritava no cárcere do meu peito
Temia que uma vez solta ela nunca mais voltasse
Sem trajetória ou percurso certo
Rebelde
Intransigente
Imprevisível
Pousou sobre os meus ombros
Soberana
Altiva
Cantando um canto paradisíaco

Agora somos um só
Eu e você ligados por essa águia investida em fogo
Mestres de falcoaria
Enxergando tão longe por olhos com os quais não nascemos
Somos uma lenda
Voando alto no horizonte
Balizados pelo infinito
Cumprindo se aqui agora
Essa profecia tão poderosa
De duas pessoas
Que se amando

Alcançaram o céu 

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