segunda-feira, 21 de novembro de 2016
Asas de cera
Tenho andado por ai
Com meu crivo cruel
Lâmina afiada
Régua ajustada
Eu meço as partes
Separo o joio do trigo
Ascendo o fogo
E espero queimar
As vezes me pergunto
Se ainda sei o que é joio
O que é trigo
Afino a lâmina da verdade
Mas já não sei
Se trabalho com o lado certo da faca
Se o cego sou eu
Ou o fio da navalha
As vezes me sinto tão só
Tão cruel
Tão escravo dos meus parâmetros
Que a estrada parece pequena
Que as curvas parecem mais fáceis
Que já não sei se se trata de um dane-se
Ou comportamento destrutivo
Eu juro que eu queria
Estar errado as vezes
Que me ligassem numa tarde
Que agissem com a nobreza do rouxinol
Mas não acontece
Nada acontece
É só mais do mesmo
O deserto de almas
E assim vou vagando
Tentando ser forte
Procurando o lótus que nasce na água suja
As vezes, de longe, avisto uma ou outra for do campo
Chego perto,
As vezes só a aproximação já me diz que cheiram mal
As vezes me demoro
E vou conhecendo aos poucos
Mas são rosas
E com o perdão da ousadia
Mas rosas ferem rouxinóis
São flores fáceis
Mal conhecem o sol
E a despeito da beleza, abrem-se sem nem saber porque
A flor de lótus
Vem pouco a pouco
Das profundezas dá água
Encontra o sol
E espera
Encanta o mundo
E depois se fecha
Para no outro dia se abrir de novo
A flor de lótus purifica à água
Floresce para a matriz da vida
Fica exuberante
Não morre
Tem paciência
Tem calma
Tem a leveza da água embora esteja presa ao solo
Finca suas raízes bem firme
Guarda um bulbo de energia
No sol mora a vida
O amanhã que sempre nasce
A clareza do dia
Mas o sol também alucina
Da espasmos
E nos leva a esperar o impossível
O incomtemplável
O toque no céu
A queda de Ícaro
Que minhas réguas, navalhas e crivos
Não sejam de cera
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